XII Fórum Brasileiro sobre Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia

Dados do Trabalho


Título

Desafios no deslocamento de pacientes com doenças da retina para receberem tratamento medicamentoso intravítreo no Sistema Único de Saúde

Introdução

Os tratamentos para degeneração macular relacionada à idade (DMRI) úmida e edema macular diabético (EMD) requerem injeções intravítreas (IVT) e consultas frequentes, exigindo o deslocamento de pacientes e de seus cuidadores às clínicas (1).

Objetivo

Avaliar o deslocamento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento de duas doenças da retina.

Material e Método

Estudo observacional, retrospectivo e descritivo, baseado em dados do Sistema de Informações Ambulatoriais – SUS (2). Foram selecionados os registros dos procedimentos 03.03.05.023-3 (Tratamento Medicamentoso de Doença da Retina) e 04.05.03.005-3 (Injeção Intravítrea) com os CIDs H35.0, H35.3 e H35.5 provenientes de pacientes adultos entre Jan/2019 e Dez/2023. Calculou-se a proporção de IVT realizadas em instituições fora do município de residência; para estes registros, estimaram-se as distâncias e os tempos de deslocamento entre o município de residência (coordenadas geográficas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (3)) e o local de tratamento (coordenadas geográficas do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (4)) a partir de rotas rodoviárias e/ou fluviais estimadas na plataforma OpenStreetMap (5). As variáveis categóricas foram apresentadas como frequências absolutas e relativas e as variáveis contínuas, como mediana e intervalo interquartil (IIQ). As análises foram conduzidas no software R versão 4.4.1.

Resultados

Ao todo, 163.880 procedimentos foram realizados no período analisado. Destes, 84.294 (51,4%) foram realizados fora do município de residência. As regiões Sul (72,0%) e Sudeste (51,1%) apresentaram maior frequência de IVT feitas fora do município. Nacionalmente, a mediana de distância e tempo dos trajetos de ida e volta para os procedimentos intermunicipais foi de, respectivamente, 117,3 km (IIQ 169,1) e 1h49min (IIQ 2h22min). As regiões com maiores medianas de distância e tempo foram o Centro-Oeste (358,3 km [IIQ 402,0] e 5h06min [IIQ 5h 21 min]) e o Nordeste (256,4 km [IIQ 454,5] e 3h55min [IIQ 6h59min]), ao passo que o Sudeste apresentou as menores medianas (97,2 km [IIQ 106,0] e 1h28min [IIQ 1h25min]). Dos registros intermunicipais, 17,1% tinham distância de até 50 km, 25,6% entre 50-100 km, 34,0% entre 100-250 km e 23,3% acima de 250 km. Ainda, 19,6% tinham tempo de rota estimado de até 1h, 34,9% entre 1-2h, 15,7% entre 2-3h e 29,7% acima de 3h.

Conclusões

No período de 2019 a 2023, aproximadamente metade das IVT realizadas no SUS para DMRI e EMD necessitaram de deslocamentos entre municípios, os quais apresentaram uma mediana nacional de distância e tempo de cerca de 120 km e 2h. A carga do deslocamento para tratamento intravítreo de doenças da retina é significativo no Brasil, indicando a necessidade de opções terapêuticas que permitam injeções menos frequentes, reduzindo a quantidade de procedimentos e consultas e aliviando o fardo da mobilidade relacionada ao tratamento aos pacientes e cuidadores.

Palavras chaves

Doenças Retinianas; Deslocamento; Carga da Doença; Estudos Populacionais em Saúde Pública

Referências Bibliográficas

1. Holekamp N, Gentile B, Giocanti-Aurégan A, García-Layana A, Peto T, Viola F, et al. Patient Experience Survey of Anti-Vascular Endothelial Growth Factor Treatment for Neovascular Age-Related Macular Degeneration and Diabetic Macular Edema. Ophthalmic Res. 2024;67(1): 311–321.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS). Boletim de Produção Ambulatorial - Consolidado. Disponível em: ftp://ftp.datasus.gov.br/dissemin/publicos/SIASUS/200801_/Dados/. Acesso em 14/06/2024.
3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cadastro de localidades selecionadas. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/estrutura-territorial/27385-localidades.html. Acesso em 27/06/2024.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS – DATASUS. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Disponível em: ftp://ftp.datasus.gov.br/dissemin/publicos/CNES/200508_/Dados/. Acesso em 27/06/2024.
5. Fundação OpenStreetMap. OpenStreetMap. Disponível em: https://www.openstreetmap.org. Acesso em 27/06/2024.

Área

Gestão

Autores

Gustavo Magno Baldin Tiguman, Tatiana Kim, Maíra Franca Alves Martins, Cintia Sayuri Kurokawa La Scala, Nelson Francisco Corrêa Netto